Chicas Poderosas colocou seu interesse no Brasil, a fim de incluir novas líderes no ecossistema de meios do país, equipando-os com autoconfiança, conhecimento e conexões.
Durante o mês de Outubro e Novembro, iniciamos nossas sessões de Design Sprint, um processo liderado por Chicas Poderosas e treinadores do IDEO, para ensinar aos participantes a usar o design centrado no ser humano (human centered design) no seu projeto de mídia independente. Como parte do trabalho, as participantes se prepararam para candidatar-se ao New Ventures Lab (NVL), o novo programa de aceleração das CP que oferece educação, orientação e acesso a oportunidades financeiras durante 17 semanas.

A nossa mentora Mariana Orch y participantes do Design Sprint de Recife, Brasil.
Como se fosse uma receita mágica, mais de 100 participantes trabalharam durante 2 dias para transformar idéias em projetos que andaram por si mesmos. Foram mais de 16 horas em cada edição do Design Sprint, que incluíam brainstorming, entrevistas, prototipagem e apresentações de projetos.
Os participantes das três cidades aprenderam a metodologia Design Thinking, onde praticaram os estágios de concepção de um projeto: Descobrir, Design, Desenvolver. O objetivo do treinamento foi oferecer uma ferramenta para que pudessem organizar idéias, não só para seus próprios projetos de mídia independente, mas também em qualquer outro projeto de vida.
Os perfis dos participantes incluíram jornalistas ou estudantes de comunicação, gerentes de comunicação institucional, acadêmicas, biólogas, designers, fundadores de startups de conteúdo e agências de design e comunicação. (Saiba mais sobre os perfis dos participantes aqui.)
No caso de Recife, o tema que dominou as discussões foi o de “bolhas de comunicação”, tendo em mente que estão a um ano de distância das eleições. Por esse motivo, vários dos projetos desenvolvidos procuram expandir o acesso a informação de qualidade e promover um debate respeitoso. Outros querem incentivar jornalismo cidadão ou hiper-local. Os protótipos incluem plataformas, aplicativos, redes sociais e até campanhas de conscientização, cheias de detalhes inovadores, como geolocalização e gamificação, apresentados em “pitch” criativos.
“É enormemente gratificante perceber que conseguimos transmitir não só conhecimento prático, mas também o espírito empreendedor e de colaboração que está no DNA das Chicas Poderosas, plantando a semente para que cada um dos participantes possa contribuir para a rede”, comentou Mariana Ochs, embaixadora da Chicas Poderosas Brasil, designer, educadora e inovadora do Google. Ela compartilha mais da sua experiência como mentora no Design Sprint de Recife nesta publicação no Medium.
Entre as idéias apresentadas, foi incluído um aplicativo de notícias de áudio, com curadoria de sites de jornalismo; uma plataforma que recomenda comunidades de informação em tópicos específicos; um sistema que promove abordagem e diálogo entre pessoas com pontos de vista divergentes; um guia geográfico de informações turísticas e de serviços, alimentado por residentes locais e uma campanha de conscientização sobre a necessidade de diálogo entre pontos de vista opostos.
Veja as fotos desta aventura em Recife aqui.
Um desafio comum em Manaus: igualdade de gênero
Queremos contar as histórias de mulheres da floresta. Evidenciar o feminismo que já existe nas comunidades ribeirinhas e tribos indígenas. Mapear quem são as líderes de comunidade, quem são as mulheres que integram suas famílias, quem são as mulheres já empoderadas e que estão distantes do feminismo que é abordado das academias. – Macarena Mairata.

A equipa do Design Sprint de Manaus.
No evento de Manaus, se reuniram meninas de comunidades tradicionais ribeirinhas, algumas localizadas a 7 horas de distância em barco. “Não importavam a realidade e a dificuldade inerentes a cada percurso. Naquela sala havia mulheres leais a seus estatutos diversos. Mulheres inteiras e em posse de seus sonhos. Conectadas a si mesmas e ao local onde vivem. Talvez seja esse o poder da Floresta. Viver em conexão. Fazer amar a vida. Fazer amar o outro. Fazer amar a casa. Fazer amar-se. Com o tudo o que há dentro. E se alguém aprendeu profundamente sobre empoderamento feminino naquele grupo, esse alguém fui eu”, escreveu Gabriela. Allegro, produtora independente de narrativas interativas e participante da Design Sprint.
Ao perguntar aos participantes sobre seus sonhos, a diversidade de respostas se destacou. Gabriela Oliveira, de 15 anos, sonha com estudar Medicina e trabalhar para a comunidade dela; Luana, de 17, quer ser uma advogada para ajudar os outros a realizar seus sonhos. Renata Ilha, bióloga que trabalha na Amazônia, quer que as mulheres se capacitem e falem sobre a riqueza e a importância da cultura ribeirinha e indígena. Odenilze Ramos, 20, sonha em entrar em uma Faculdade de Jornalismo e trabalhar em questões de feminismo com sua comunidade de Carão.
Independentemente das diferenças, as participantes conseguiram concordar com um desafio comum: ter igualdade de gênero. Durante os dois dias de trabalho, as meninas geraram entrevistas que lhes permitiram partilhar conhecimento e experiências e avançar na prototipagem de dezenas de idéias. Gabriela Allegro nos mostra a evidência.
Como resultado do processo de síntese e apresentação de idéias, surgiram projetos como um concurso de redação sobre o feminismo, onde os especialistas enriquecem os debates e ampliam a reflexão; um documentário sobre mulheres da floresta amazônica brasileira; um festival de música para modificar as letras de canções machistas, com conversas sobre as composições e seus efeitos e, finalmente, publicações com testemunhos sobre o que o feminismo é, para desmistificar o paradigma em torno da palavra.
Agradecimentos especiais ao apoio da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e do Impact Hub.

Jackeline Silva da Comunidad de Saracá, localizada a 7 horas de Manaus, em barco.
São Paulo – Um feriado intenso e cheio de aprendizaje
Seguindo a mesma dinâmica dos eventos anteriores, os grupos trabalharam em imersão total investigando, desenhando, fazendo protótipos até chegar à versão final dos projetos, apresentados no último dia.
Embora fosse um feriado e a previsão do tempo não fosse muito favorável, o Design Sprint de São Paulo superou nossas expectativas. Graças ao time de mentores e embaixadores da Chicas Poderosas Brasil, foi um fim de semana com mais de 40 assistentes e muita aprendizagem. Valeu, São Paulo!
Ao final, surgiram idéias incríveis para web e aplicativos e tecnologia para gerenciar melhor a informação, seja por geolocalização, redes sociais ou com o uso da inteligência artificial. Também trabalharam num projeto sobre como ter acesso às notícias você não lê porque está fora da sua bolha, mas pode te interessar.
As idéias apresentadas também procuravam saber como produzir conteúdo rentável e acessível para todos: criar um bot de inteligência artificial que oferece informações; um aplicativo sobre astronomia e universo e projetos como InFOR.me que procura selecionar informações dependendo do usuário, em formato de áudio, vídeo ou texto.
“Conversei com alguns participantes e fiquei feliz em saber que para eles foi um fim de semana de aprendizado. É isso que o Chicas representa pra mim também: um constante aprendizado. Participei do primeiro evento há dois anos, quando me tornei embaixadora, e, desde então, passei a fazer parte dessa comunidade”, diz Luisa Britto, embaixadora da Chicas no Brasil, editora de texto da TV Globo e quem partilha esta entrada conosco.
Obrigado a todos que fizeram Design Sprint possível!
* Este artigo foi inspirado nas contribuições de Mariana Ochs, Gabriela Allegro e Luisa Brito.